Mas afinal, o que é arqueologia? | Arqueologando #1

Desde o começo do blog eu dividi com vocês a minha vontade de ser arqueóloga , passei um ano entre postagens no blog ou Instagram e estudos...


Desde o começo do blog eu dividi com vocês a minha vontade de ser arqueóloga, passei um ano entre postagens no blog ou Instagram e estudos para o ENEM, muitas coisas aconteceram até chegar aonde estou, no penúltimo semestre da tal graduação em arqueologia. O que me motivou durante toda a minha graduação foi a vontade de dividir com todo mundo o que eu estava aprendendo. Isso pode soar chato, talvez até uma forçada de barra, afinal, para quê você iria querer saber algo sobre arqueologia? Mas antes de chegar a este ponto, precisamos deixar bem explicado o que é a arqueologia.

Essa é a definição que podemos encontrar no Google. É uma definição muito simplista para a complexidade que envolve essa ciência.


Falar sobre presente, passado e futuro soa fácil, na realidade, é fácil. Quando tecemos uma discussão superficial. A arqueologia é um mergulho num oceano de passado. Profundo, delicado, misterioso. É falar sobre o começo de nós, seres humanos, através de objetos, ou vestígios arqueológicos se formos pontuar termos mais técnicos. Não se prendendo apenas ao período mais recuado, com os famosos homens das cavernas, a arqueologia se faz necessária em períodos muito mais atuais.

 Agora você pode estar confuso, talvez pensando em dinossauros, e esse é um equivoco muito comum. Então vamos combinar o seguinte, você terminará de ler essa postagem com a plena certeza de que arqueologia não tem nada haver com dinossauros. A ciência que estuda os dinossauros é a paleontologia, uma amiga distante de escavações. Quando disse que estudamos os seres humanos através de objetos, deve ter ficado bem vago né? Mas vamos destrinchar isso juntos. Antes de começar é necessário dizer que a arqueologia ela pode ser divida em dois grandes blocos de acordo com o recorte temporal, sendo assim, temos a arqueologia pré colonial e a arqueologia histórica.





Tradução: Eu não posso ter dinossauros o suficiente.
No primeiro Gif nós temos o personagem Ross Geller da série Friends, um paleontólogo.



Tradução: Não, não, Homo Habilis era ereto, Australopithecus nunca foi completamente ereto.

No segundo gif temos o Ross novamente, só que agora ele
está fazendo uma piadinha arqueológica. O Homo Habilis e
o Australopithecus são antepassados do Homo Sapiens (nós).
Ou seja, com base em estudos arqueológicos, 
sabemos que o Homo Habilis foi possivelmente o 
primeiro hominídeo a andar sob duas pernas.




Sobre a Arqueologia Pré Colonial / Pré História

Ao longo dos anos, nós, seres humanos, nos adaptamos e evoluímos biologicamente (não vamos mencionar religião aqui. Todas as crenças são válidas, mas nesse momento estamos conversando sobre o ponto de vista científico) várias vezes, sempre buscando uma adaptação ao meio em que vivíamos. Assim como usamos alguns objetos para auxiliar no dia a dia, os hominídeos de milhares de anos atrás também produziam materialidades que podem nos dar uma ideia de como era o seu cotidiano. Se hoje nós temos facas Tramontina super afiadas e super mercados lotados de comidas, à dez mil anos atras havia pontas de flechas feitas de rochas com técnicas diversas de lascamento, animais selvagens para serem caçados, frutas e raízes para serem coletadas e um estilo de vida completamente diferente do nosso. Quer um exercício bem legal para fazer nesse distanciamento social? Assista o filme A era do gelo 1 e perceba a fauna, flora, o clima e os humanos retratados naquela história.




 Nesses breves parágrafos eu resumi  o que é tradicionalmente chamado de Arqueologia Pré Histórica. Acho interessante pontuar brevemente o motivo de não usar nesse texto o termo "arqueologia pré histórica". A arqueologia pré colonial ou pré histórica se encarrega de estudar o período que antecede a colonização do Brasil. Antes dos Portugueses invadirem o Brasil, existiam grupos indígenas de diversas etnias, com idiomas, culturas e crenças. Inclusive quando alguém começar esse papo furado de descobrimento do Brasil, por favor interrompa e diga que o Brasil nunca esteve perdido para ser encontrado, ele foi invadido, e as marcas dessa invasão são visíveis até hoje, mas esse assunto cabe em outro arqueologando.

Mas por qual motivo esse termo "arqueologia pré histórica" não é um termo tão legal a ser utilizado? Primeiro, o termo pré história carrega uma afirmação: Se a história começa apenas com o processo de colonização, quem vivia aqui no Brasil antes da invasão, não tem uma história? Outro marco utilizado para separar o período pré e pós colonial é a presença da escrita, e deixo aqui uma pergunta bastante intrigante: Você acha que as pessoas do século XIX que não sabem ler ou escrever, são pré históricas ou fazem parte do período pré histórico? A resposta é não, só pra deixar esclarecido. Porquê o que caracteriza o período não é a escrita ou a chegada em si dos colonizadores, mas sim o modo de vida que gradualmente é modificado, dando início ao sistema capitalista nas Américas. Esse é um marco bastante relevante que separa o pré do pós colonial.

E para ilustrar um pouco do que a arqueologia pré colonial estuda, vou deixar algumas imagens retiradas do Google, se você achar algo interessante, haverá no fim da publicação uma bibliografia sobre o tema e o link para os sites onde as imagens foram encontradas. Lembrando que vou focar apenas na arqueologia brasileira.

Material lítico polido e lascado feito a partir de diferentes rochas. Imagem retirada do blog Arqueologia e pré história, link no fim da publicação.

Vasilhame cerâmico pré colonial. Imagem retirada do blog Arqueologia e pré história, link no fim da publicação.

Remanescentes humanos também são alvo de estudo da arqueologia. Os enterramentos revelam informações sobre o indivíduo e sobre a cultura da sociedade a qual pertencia. Através dos objetos e análise do material ósseo. Imagem retirada do site Mega Curioso e o link para essa publicação estará no fim do texto.


Imagem de registros rupestres no Sítio Boqueirão da Pedra Furada - PI, esse é apenas uma pequena parte de todo um suporte rochoso repleto de registros, com representação de humanos e animais. O pigmento utilizado para fazer os registros tem origem mineral, como por exemplo o ocre que possibilitou a pigmentação vermelha. Imagem retirada do site da ABAR, link no fim da publicação.


Arqueologia Pós colonial / Histórica

Sabendo o que divide esses dois marcos temporais, fica mais fácil entender o que a arqueologia histórica estuda. O período de colonização e tudo que acontece após esse processo, é área de estudo da arqueologia histórica. Alguns pesquisadores debatem sobre até onde esses estudos vão, tem quem acredite que a arqueologia deveria estudar até cinquenta anos atras. Eu sinceramente acredito que não deveria existir essa barreira cronológica, tendo em vista que tudo que é  de competência da arqueologia histórica faz parte do nosso dia a dia, são lugares, costumes, culturas, crenças e coisas que foram construídas a anos atras mas ainda fazem parte do hoje, com certeza houveram modificações, mas quem mais poderia falar de patrimônio se não a arqueologia? 

 
Cerâmicas, louças e faianças fazem parte dos vestígios de um sítio arqueológico histórico. Esses objetos podem fornecer informações sobre as pessoas que residiam no lugar através de selos e brasões de famílias, ou só pelo fato de, no caso das louças, terem sido um objeto caro e consequentemente não acessível a todos. Imagem do site studio lab decor, link do site no fim da publicação.

Centro histórico de Salvador, Pelourinho. Cidades históricas refletem o período da colonização, com a arquitetura, a disposição dos prédios na organização dos lugares. A interação com esses espaços, questões sobre restauração e resinificação  desses espaços são de interesse da arqueologia histórica. Imagem retirada do site Fragata Surprise, link no final da publicação.


Fortificações são encontradas por todo o litoral nordestino, esse por exemplo é o Forte Orange localizado em Itamaracá - PE. Tiveram grande papel nos processos de colonização do Brasil. Imagem retirada do site do IPHAN, link no fim da publicação.


Todos os lugares e coisas mostradas acima fazem parte do período colonial e contam apenas uma parte da história, a história dos colonizadores, uma parcela da população que tinha acesso a leitura e escrita, e que deixaram registros escritos de seu tempo. A questão é que esses registros históricos tratam de forma excludente vários grupos que viviam no Brasil nesse mesmo período, como os diversos grupos indígenas que já habitavam o país e negros trazidos da África em situação de escravidão. A arqueologia é uma das opções para conhecer um pouco mais essa parte do passado. 

E por falar em patrimônio, esse é o tema do nosso próximo arqueologando! Ficou com alguma dúvida? Deixa nos comentários! Divide com a gente o que você acredita ser um patrimônio e se possível deixe exemplos 


Bibliografia de links e textos interessantes

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