É apenas mais uma romantasia? O que achei de Quarta asa e a série Empyrean de Rebecca Yarros
09 junhoEu já estava curiosa para conhecer a história devido ao surto coletivo que os leitores compartilharam nas redes sociais. Pagar quase duzento...
Eu já estava curiosa para conhecer a história devido ao surto coletivo que os leitores compartilharam nas redes sociais. Pagar quase duzentos reais em um exemplar faz qualquer um questionar o que tem nesses livros para encantar tantos leitores. Além disso, amigas próximas estavam empolgadas e carinhosamente insistindo para que eu desse uma chance para essa leitura. E eu li, não só o primeiro livro, mas sim os três publicados até agora, e não poderia deixar de comentar sobre essa leitura. Como sempre, não haverá spoilers nessa publicação, vou compartilhar minha opinião sobre a leitura e os motivos para você considerar entrar nesse esquema de pirâmide literária.
O universo fantástico de quarta asa envolve um mundo dividido por questões políticas e mágicas, com países aliados e rivais lutando entre si com muito afinco, mas a grande questão é: por qual motivo? Entre conflitos, o reino de Navarre possui um sistema militar dividido em quatro categorias: infantaria, curandeiro, escriba e cavaleiros de dragões, e quem nos apresenta esse universo é a Violet Sorrengail, uma garota de saúde frágil, treinada durante anos pelo pai para entrar na divisão dos escribas, até que algo muda e sua mãe, a famosa general Sorrengail, faz com que Violet participe da seleção dos cavaleiros de dragões. A princípio a história começa se estruturando no grande desafio de entrar no Instituto Militar de Basgiath, sem muito treinamento prévio, poucos aliados, muitos inimigos e o peso do sobrenome com um legado de força e vitória. Com o passar das páginas, Violet que foi criada para trabalhar com informações e conhecimentos, começa a perceber as incoerências e lacunas na história do próprio pais através do treinamento e vivências como cadete aspirante a cavaleiro de dragão.
Tirando várias camadas, a gente consegue resumir a premissa do livro a uma vivência escolar bastante deturpada, com jovens adultos desenvolvendo habilidades mágicas, poder e instinto de sobrevivência. A fantasia se desenvolve a partir dos dragões, com um sistema mágico simples, onde a conexão com um dragão permite que o personagem canalize magia e desenvolva alguma habilidade. Como toda fantasia, as questões políticas estão presentes e vão ganhando profundidade a medida em que vamos adquirindo mais informações sobre a história.
Os três livros seguem uma construção muito interessante onde o leitor vai descobrindo os conflitos com a personagem principal, e a cada descoberta vamos percebendo que só estamos na ponta do iceberg. Essa construção mais misteriosa do enredo alimenta os leitores que passam horas desenvolvendo teorias, inclusive o Instagram tá cheio de gringos num formato podcast lendo e relendo os livros em busca de "foreshadowing" (artifício literário onde fragmentos da história são apresentados de forma antecipada e misteriosa, muitas vezes só fazendo sentido tardiamente na leitura). Isso mantém os fãs animados com o próximo lançamento e até deixa não leitores meio curiosos para entender o que é tão empolgante na história. A linguagem do livro é bem jovem, com personagens no início da vida adulta e meio imaturos, com uns diálogos que me fez passar um pouco de vergonha alheia, não por ser mal escrito, mas por não conversarem tanto comigo e meus 27 anos.
A saga ficou categorizada no subgênero da romantasia, ou seja, é um livro escrito por mulher, para o público feminino, envolvendo na narrativa romance e cenas explícitas de sexo, consequentemente a classificação indicativa para esse livro é +18, caso não goste de leituras explícitas Quarta asa pode não ser uma boa indicação, ou você pode pular as cenas e aproveitar todo o resto. O romance faz parte central do desenvolvimento da história, apesar do livro não ser sobre o casal, a relação que se desenvolve está intrinsecamente vinculada com o enredo e não dá para desassociar o andamento da trama com o desenvolvimento romântico. Ainda assim, o livro não se reduz a um romance, a autora consegue mesclar e fazer os dois andarem lado a lado sem ficar desinteressante.
Então quer dizer que Quarta asa é só mais uma romantasia? Sinceramente, acredito que não. Mesmo cumprindo algumas regrinhas para se encaixar no subgênero, a construção da narrativa consegue ser mais interessante e desenvolvida do que outras romantasias que andei lendo. Ler esses livros prestando atenção na parte histórica e política, me deixou extremamente empolgada, essa parte da história é mais elaborada e tem uma promessa de ser algo muito interessante no final da saga. E esses dois pontos na construção da história, deixa o livro mais próximo de fantasias mais "clássicas", por isso eu acredito que seja uma boa opção de leitura para quem quer começar a ler mais livros do gênero fantasia, se preparando para autores que trabalham com mais complexidade a construção política e mágica. No mais, a atualidade de um dos grandes problemas enfrentados pelos personagens do livro conversa muito com os problemas contemporâneos nada fictícios, como, por exemplo, os Estados Unidos do Trump e a falta de conhecimento da própria história e a proibição de livros. A estratégia de cercar a população de informações selecionadas e com propósitos bem definidos é algo que já vimos antes na realidade. E se o livro aborda de alguma forma a importância da história e como narrativas são modificadas para garantir a manutenção do poder de uma pequena elite, sim, eu estarei profundamente interessada na leitura. A saga ganhou essa magia para mim, foi ótimo ler algo divertido e conseguir tirar da leitura algumas reflexões sobre o mundo real e problemas contemporâneos, isso me fez lembrar que literatura cumpre essa função de entreter e informar, não precisando ser um ou o outro. Acabei dando cinco estrelas para os livros, não houve momentos chatos, consegui ler rapidamente (coisa que não é tão comum para mim) e me deixou curiosa do inicio ao fim pensando em quem são os verdadeiros vilões da história.
Agora eu quero saber quem já entrou nesse esquema de pirâmide literário e quem tá querendo entrar. E se tem algo que faz você ler um livro, tipo eu com o rolê de política e história.