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Em tempos de redes sociais, por que ter um blog? | BEWA 2025 - Garota do 330

Em tempos de redes sociais, por que ter um blog? | BEWA 2025

Mais uma publicação do    bewa 2025    e o tema "Por que você criou um blog?" veio lá do gerador da    Porce-Lana   , mas é uma qu...


Mais uma publicação do  bewa 2025  e o tema "Por que você criou um blog?" veio lá do gerador da  Porce-Lana , mas é uma questão que mora na minha cabeça há muitos anos. O que me leva a ter um blog? O que me faz voltar para esse espaço? Não sei se esse texto vai parar em alguém que quer investir na jornada da blogosfera, ou alguém que está pensando em desistir, ou pior, alguém que caiu aqui de paraquedas e acabou de descobrir que as pessoas ainda têm blogs. A proposta dessa publicação é compartilhar minhas razões e reflexões sobre esse espaço, e como a nossa relação com a internet mudou tanto ao longo dos anos.

Vivi minha infância nos anos 2000, acompanhando o surgimento dessa era tecnológica que resultou no que temos hoje. Eu mexi em computador de tubo, vi pessoas usando FAX e disquete, tive celular com a tela em bits preto e branco com joguinho da cobrinha. Nessa época o offline era o dia todo, o máximo de tela da minha infância era a televisão. Minha adolescência foi muito mais virtual, com YouTube, MSN, Twitter, Orkut, Habbo hotel e Neopets. E mesmo com tudo isso, ainda era uma vida mais offline, com no máximo duas horas de computador por dia. Com os celulares, apesar de serem um pouco mais tecnológicos, não era comum ter internet neles, apenas pacotes de SMS para conversar com amigas. O uso da internet acabava sendo restrito aos computadores, e com isso, era mais comum acessar sites e blogs. Nessa época, eu gostava muito de jogos online, acessar o site da revista capricho e toda teen, além de ler vários blogs, alguns sobre moda e beleza, outros sobre celebridades da Disney, até alguns com creepy pasta e várias histórias de terror. Mas fazia parte do uso da internet visitar espaços virtuais que carregavam a personalidade de pessoas, que eram pensados por pessoas para finalidades pessoais. Existia uma infinidade de modelos de páginas, com estéticas diferentes que não seguiam uma padronização do uso na internet.


No meio disso tudo, resolvi criar meu primeiro blog, era muito simples no layout e servia como um diário. Obviamente durou poucos meses, desisti do projeto e excluí o blog. Alguns anos depois eu comecei a sentir que seria muito legal ter um espaço que eu pudesse falar das coisas que gosto, naquela época já era leitora, mas apenas em 2015 eu voltei para o blog, já com o Garota do 330. Esse primeiro ano de blog foi muito mais sobre tutoriais de HTML do que produção de conteúdo. E por falar em conteúdo, não tinha um nicho definido, então saiam literalmente publicações sobre qualquer coisa. Em 2016 o blog ganhou o layout atual e aos poucos fui trazendo mais conteúdo literário, mas definir um nicho nunca foi algo que me deixava feliz, inclusive esse nome Garota do 330 é tão aleatório que não transmite de imediato qual é a proposta, apenas uma persona meio confusa que está online há muito tempo.

Aqui no blog eu aprendi um pouquinho de cada coisa, conheci muitas pessoas legais, li coisas incríveis e se tornou um espaço para desenvolver algo que eu amo: a escrita. Falar sobre coisas que amamos e nos deixam empolgados pode parecer fácil, até você precisar escrever um texto coerente sobre isso. E sou muito grata por passar anos desenvolvendo essa habilidade por aqui, facilitou muito a minha vida na faculdade. Ao mesmo tempo, em que esse blog surgiu, minha relação com a internet também mudou. Eu passei a ficar mais tempo online, tanto por aqui escrevendo e visitando outros blogs, como também estudando para o vestibular. E nessa época as redes sociais viraram uma coisa que moldou a nossa relação com o virtual. Foi também nessa época que ganhei um celular novo e passei a ter acesso ao Instagram. Ter um celular com acesso à internet na palma da mão mudou muita coisa no meu dia a dia e fiquei cronicamente online desde então. De uns anos para cá que comecei a olhar essa relação com o celular de forma mais analítica e crítica. Ser a primeira coisa que vejo quando acordo e a última antes de dormir é normal até você racionalizar esse comportamento e ver que não é tão normal assim.

Esse acesso constante e o estabelecimento de redes sociais no nosso cotidiano me trazem muitas questões e foi o que me fez retornar para o blog. Quando fui para a faculdade em 2017, tentei manter o blog atualizado, mas a nova rotina impossibilitou e eventualmente eu parei de ler. O blog e o Instagram literário que eu havia feito ficaram inativos por alguns anos, até que eu me deparasse com a saudade de ler e eventualmente compartilhar sobre as leituras. Com a facilidade de produzir conteúdo para o Instagram devido ao acesso pelo celular, eu retomei as atividades por lá, mas com o tempo a situação foi ficando meio frustrante. Publicar conteúdo em uma rede social é no mínimo algo restritivo.

Quem faz talvez tenha a mesma percepção que eu, você precisa não só prestar atenção ao algoritmo, mas ao conteúdo que viraliza. Existe um horário para publicar, uma forma de tirar foto, uma forma de gravar vídeo, um áudio específico da vez, um tema... Quando você se dá conta, está mais replicando do que criando, e tudo isso na tentativa de agradar ao algoritmo e fazer com que seu conteúdo seja entregue para pessoas. Outra observação que fiz ao longo dos anos é que além do consumo rápido, o conteúdo produzido tem um tempo de vida curto. Depois de alguns minutos a publicação foi esquecida pelo algoritmo e será dificilmente acessada por alguém. Além do algoritmo, deixar de recomendar sua publicação, o próprio formato da página da rede social não incentiva que seja uma experiência longa para o usuário no seu perfil, enquanto no blog você pode acessar a página inicial e ver as publicações mais recentes, ou usar tanto a barra de busca quando o menu para navegar em publicações com temas específicos. Essa autonomia que eu tenho no blog de criar e organizar, faz com que o usuário tenha uma experiência moldada para dar autonomia na escolha, possibilitando que publicações antigas ainda sejam acessadas, e o leitor escolha o que quer ver, em ver de ficar vendo coisas aleatórias sem um propósito ou interesse definido.

Dentro do nicho literário vemos algumas dinâmicas adicionais, como a criação de uma estética e estilo de vida de leitor para criar desejo de consumo, comentários rasos sobre leituras, indicações de livros famosos, pois são mais fáceis de gerar engajamento e uma hiper valorização de banalidades que são bonitinhas e aesthetic que vão prendendo a atenção em um conteúdo pensado para chamar a atenção, mas não entrega muita coisa além de hiper estímulo audiovisual.

Em nome do engajamento vemos muitas padronizações e propaganda. Meio cansada disso, fiquei lembrando da época na minha adolescência em que a internet era divertida, mas não me consumia, até lembrar como era gostoso entrar em um blog e navegar por ele com calma, sem grandes estímulos visuais, descobrindo coisas interessantes e tendo autonomia para escolher o que eu iria consumir online. Até mesmo o tempo é diferente nesses espaços virtuais. Enquanto nas redes sociais recebemos uma quantidade enorme de vídeos e fotos rápidas, não dedicamos tempo para observar e formular um pensamento sobre o que vimos, só vamos pulando para o próximo vídeo. Em contrapartida, acessar blogs me fazer tirar um tempo do meu dia para de fato prestar atenção no que eu vou ver, seja uma publicação sobre livros, séries e música, ou até mesmo blogs com uma proposta de textos mais pessoais com reflexões sobre o dia a dia. São acessos a uma experiência virtual onde sinto que de fato me conecto com algo.

Hoje eu diria que o blog para mim, além de ser um espaço criativo onde posso escrever sobre coisas que gosto, também se tornou um espaço para repensar minha relação com o virtual, sobre como tenho passado meu tempo livre rendida a um entretenimento raso e sem grandes propósitos, como poderia estar fazendo outras coisas mais interessantes, mas simplesmente não faço porque o celular está na palma da minha mão. Acredito que o celular se tornou um lazer acessível e muitas vezes é o que temos para fazer por faltar recursos para investir em outros passatempos, o que leva esse problema para questões socioeconômicas, mas sabendo disso, preciso definir como posso me relacionar com o ciberespaço de forma mais proveitosa, e a blogosfera tem sido uma boa alternativa.

Indicação de leitura: publicação na newsletter  Arte em cena 

E vocês? O que motiva estar na blogosfera?

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3 comments

  1. Que texto maravilhoso! É incrível como conseguimos refletir sobre o impacto da internet e da blogosfera nas nossas vidas ao longo do tempo. Concordo totalmente com você sobre a sensação de autonomia que temos ao criar e navegar por blogs. A dinâmica de consumir conteúdo de forma mais profunda e sem a pressa de algo "viralizar" é, de fato, única e muito valiosa nos dias de hoje.

    Eu também senti essa saudade de blogs mais pessoais, onde a gente realmente se conecta com o que o outro tem a dizer. Eu adorei a forma como você descreveu a relação com a internet e como o blog se tornou uma forma de "resistir" à superficialidade das redes sociais. E, claro, a nostalgia dessa época em que o acesso à internet era mais simples, mas ainda assim tão rico em experiências.

    Vou ficar aqui pensando bastante sobre isso, obrigada por compartilhar sua jornada tão genuína! Adoro poder acompanhar esse retorno à blogosfera com tantas reflexões importantes.

    Kisses ~
    Just Me

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    Respostas
    1. Oi Gabi! Fico feliz que tenha gostado da publicação :3
      A autonomia de ter um blog é sensacional no processo criativo, fica a liberdade de fazer o que deseja e sem muitos moldes de como fazer (apesar de existir técnicas de search afins) mas a espontaneidade da coisa é muito presente e dá ao leitor uma coisa que não vemos nas redes sociais: autenticidade. Mesmo que as vivências e gostos se repitam, pois ninguém vai reinventar a roda, mas ainda assim é mais autêntico o jeito de transmitir, sem falar que a habilidade de passar informações através da escrita é uma grande habilidade. Espero ver uma crescente de blogs ativos e novas maneiras de lidar com o virtual.

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  2. Xi! Acreditas que me identifiquei com as tuas palavras? Também estava na adolescência quando tive o meu primeiro blog e na altura ele era apenas uma espécie de diário! Hoje em dia, não vivo sem o blog e as redes sociais, porém, é triste ver que muitas pessoas estão a trocar os blogs pelos conteúdos instantâneos das redes sociais!

    Bjxxx,
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