Apartamento 330
Reflexões entre a realidade e os sonhos | Resumão de fevereiro
31 marçoSegundo mês de resumão e temos um mega atraso. Poderia dizer que foi falta de comprometimento, mas até aí estaria mentindo. A verdade é que estou digerindo fevereiro. Talvez eu esteja digerindo coisas mais antigas que fevereiro e por isso esse resumão está atrasado e será um fluxo de pensamento meio tortuoso, tendo em vista que nada está finalizado além do mês. Vale ressaltar que em fevereiro eu li apenas um livro, e além das coisas que estavam morando na minha cabeça, perto do coração selvagem da Clarice Lispector não facilitou a minha vida. Quero muito começar a escrever a resenha dele, mas simplesmente não sei por onde começar. Foi uma leitura que me deixou reflexiva e pensando sobre as coisas que tenho em comum com a protagonista Joana.
Então os dias foram passando, sabe aquelas reflexões internas que começam em dezembro e dão uma pausa com a virada do ano? Elas continuam aqui comigo. Alguns dias assumindo uma forma diferente, outros dias parecendo um peso sob os meus ombros e me pego muito cansada tentando lidar com isso. Faz alguns meses que esse peso ganhou uma forma em palavras meio amargas e cá estou eu lendo e relendo elas mentalmente, uma cacofonia de dúvidas que se resumem em "então isso é o que acontece quando seguimos nossos sonhos?".
Crescemos com pessoas perguntando o que queremos ser quando crescermos. Provavelmente as primeiras respostam eram as mais livres, as mais próximas de qualquer inocência. Quase ninguém se atreveria a desfazer essas fantasias, talvez até alimentassem com algum saudosismo da própria inocência contida "no ser quando crescer". O tempo vai tomando as coisas. As ideias vão refinando, a ingenuidade vai sendo substituídas por sonhos e determinação. Enquanto antes a inocência ditava as certezas da vida, a vontade e a dedicação vão estruturando bases com toques meritocratas tão presentes no dia a dia.
Se eu me esforçar vai dar certo.
Se eu der o melhor de mim com certeza vai dar certo.
E talvez dê mesmo. Mas atenha-se ao fato de que é um talvez. Faz algum tempo que contemplei essa grande verdade, não existem garantias. Se questionar sobre o que ser quando crescer vai ficando mais complexo. O que é crescer? Vou querer ser o mesmo durante tanto tempo? O que eu quero ser hoje será viável daqui a uns anos? Pensar sobre essas coisas nos levam sempre ao mundo das hipóteses com vários "e se". Novamente em uma bolha de talvez. Se agarrar ao conhecido pode ser uma salvação. Buscar certezas em padrões, e viver em cima das altas probabilidades pode ser lógico. Mas o que fazer quando o que se quer não é tão lógico? Quando o querer ser está entrelaçado a coisas maiores do que o próprio ser. Quando não é só uma decisão individual, passando por crenças, envolvendo coletivos e memórias, quando nos deixamos ser guiados pelos desejos do coração ou da alma, completamente extasiado com a vastidão do que existe dentro e fora de si. As possibilidades diversas, e a certeza que o caminho é aquele. Apesar da sensação de realização, novamente recaímos nas dúvidas. Seguir um sonho não tem garantia alguma.
Em meio essa vastidão de incertezas, eu tenho buscado conforto na ideia de que fiz o que quis, fiz o que acreditei ser melhor. E quando isso não basta, lembro daquela frase clichê "Não se trata sobre o destino, mas sim sobre a viagem" e começo a penso em toda a trajetória até o presente, lembro dos momentos bons, dos momentos péssimos e como tudo contribuiu para quem eu sou hoje. Não se engane, eu gosto muito do que sou hoje, ainda gosto muito desse lado tão centrado em ser no mundo físico quem eu sou no mundo das minhas ideias. Gosto de como as coisas criam raízes e sentidos dentro de mim e vão construindo e destruindo versões minhas. Então me deparo com um problema maior, um problema ao qual participo da equação, mas não posso mudar o resultado, apenas encarar como funcionam as coisas que não estão ao meu alcance. Elas me impactam e tudo o que posso fazer é descobrir como contornar ou me adaptar sem mudar coisas essenciais.
Com essa publicação não concluo muita coisa, tão pouco quero desestimular quem quer que esteja lendo isso e pensando nos próprios sonhos. Acredito que não estamos tão sozinhos quanto imaginamos, e em partes essa frustração toda é resultado de políticas, capitalismo e crise climática. Viver de coisas como arte, ciência, docência e tantas outras profissões, pode ser incrivelmente caótico e desafiador, mas se essa é a jornada que você escolheu, é melhor apertar o cinto e aproveitar a paisagem.
2 comments
cara, essa coisa de querer ser quando crescer é tão doida. mudei minhas respostas tantas vezes até que chegou uma fase de "não sei". fui tomada por um medo de estar errada, sabe? de "será que estou escolhendo o certo?" e pra falar a verdade, até hj penso na resposta com um pouco de incerteza. me questiono muito se é o que realmente quero, se não estou indo pelo caminho mais cômodo, se estou realmente feliz. fora a pressão de pensar que tenho prazo pra me decidir, pq "to ficando velha". é tão difícil ser adulto, né? não basta só responder igual quando éramos crianças, a gnt tem que pensar numa série de obstáculos que podem acontecer, etc. mas passa, tudo passa!
ResponderExcluirabraços, nanaview ⭐
Olá, Vaneza!
ResponderExcluirEu tentei ler Clarice Lispector, mas não consegui terminar. Deixei de lado por um tempo. Alguns contos me deixaram bastante reflexiva também.
Sobre os sonhos, estamos em sintonia, porque é algo que me peguei pensando sobre esses dias também.
O grande problema envolvido com nossos sonhos é exatamente o descontrole sobre fatores externos. Além de políticas, capitalismo, crise climática, etc., ainda temos o turbilhão de problemas na esfera pessoal. Não temos como prever como tudo irá se desenrolar porque a gente mesmo vai mudando internamente justamente por causa do que nos acontece na vida e ao nosso redor.
Adorei sua reflexão!
Beijos
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