É apenas mais uma romantasia? O que achei de Quarta asa e a série Empyrean de Rebecca Yarros

Eu já estava curiosa para conhecer a história devido ao surto coletivo que os leitores compartilharam nas redes sociais. Pagar quase duzento...


Eu já estava curiosa para conhecer a história devido ao surto coletivo que os leitores compartilharam nas redes sociais. Pagar quase duzentos reais em um exemplar faz qualquer um questionar o que tem nesses livros para encantar tantos leitores. Além disso, amigas próximas estavam empolgadas e carinhosamente insistindo para que eu desse uma chance para essa leitura. E eu li, não só o primeiro livro, mas sim os três publicados até agora, e não poderia deixar de comentar sobre essa leitura. Como sempre, não haverá spoilers nessa publicação, vou compartilhar minha opinião sobre a leitura e os motivos para você considerar entrar nesse esquema de pirâmide literária.

O universo fantástico de quarta asa envolve um mundo dividido por questões políticas e mágicas, com países aliados e rivais lutando entre si com muito afinco, mas a grande questão é: por qual motivo? Entre conflitos, o reino de Navarre possui um sistema militar dividido em quatro categorias: infantaria, curandeiro, escriba e cavaleiros de dragões, e quem nos apresenta esse universo é a Violet Sorrengail, uma garota de saúde frágil, treinada durante anos pelo pai para entrar na divisão dos escribas, até que algo muda e sua mãe, a famosa general Sorrengail, faz com que Violet participe da seleção dos cavaleiros de dragões. A princípio a história começa se estruturando no grande desafio de entrar no Instituto Militar de Basgiath, sem muito treinamento prévio, poucos aliados, muitos inimigos e o peso do sobrenome com um legado de força e vitória. Com o passar das páginas, Violet que foi criada para trabalhar com informações e conhecimentos, começa a perceber as incoerências e lacunas na história do próprio pais através do treinamento e vivências como cadete aspirante a cavaleiro de dragão.

Tirando várias camadas, a gente consegue resumir a premissa do livro a uma vivência escolar bastante deturpada, com jovens adultos desenvolvendo habilidades mágicas, poder e instinto de sobrevivência. A fantasia se desenvolve a partir dos dragões, com um sistema mágico simples, onde a conexão com um dragão permite que o personagem canalize magia e desenvolva alguma habilidade. Como toda fantasia, as questões políticas estão presentes e vão ganhando profundidade a medida em que vamos adquirindo mais informações sobre a história.

Os três livros seguem uma construção muito interessante onde o leitor vai descobrindo os conflitos com a personagem principal, e a cada descoberta vamos percebendo que só estamos na ponta do iceberg. Essa construção mais misteriosa do enredo alimenta os leitores que passam horas desenvolvendo teorias, inclusive o Instagram tá cheio de gringos num formato podcast lendo e relendo os livros em busca de "foreshadowing" (artifício literário onde fragmentos da história são apresentados de forma antecipada e misteriosa, muitas vezes só fazendo sentido tardiamente na leitura). Isso mantém os fãs animados com o próximo lançamento e até deixa não leitores meio curiosos para entender o que é tão empolgante na história. A linguagem do livro é bem jovem, com personagens no início da vida adulta e meio imaturos, com uns diálogos que me fez passar um pouco de vergonha alheia, não por ser mal escrito, mas por não conversarem tanto comigo e meus 27 anos.

A saga ficou categorizada no subgênero da romantasia, ou seja, é um livro escrito por mulher, para o público feminino, envolvendo na narrativa romance e cenas explícitas de sexo, consequentemente a classificação indicativa para esse livro é +18, caso não goste de leituras explícitas Quarta asa pode não ser uma boa indicação, ou você pode pular as cenas e aproveitar todo o resto. O romance faz parte central do desenvolvimento da história, apesar do livro não ser sobre o casal, a relação que se desenvolve está intrinsecamente vinculada com o enredo e não dá para desassociar o andamento da trama com o desenvolvimento romântico. Ainda assim, o livro não se reduz a um romance, a autora consegue mesclar e fazer os dois andarem lado a lado sem ficar desinteressante.

Então quer dizer que Quarta asa é só mais uma romantasia? Sinceramente, acredito que não. Mesmo cumprindo algumas regrinhas para se encaixar no subgênero, a construção da narrativa consegue ser mais interessante e desenvolvida do que outras romantasias que andei lendo. Ler esses livros prestando atenção na parte histórica e política, me deixou extremamente empolgada, essa parte da história é mais elaborada e tem uma promessa de ser algo muito interessante no final da saga. E esses dois pontos na construção da história, deixa o livro mais próximo de fantasias mais "clássicas", por isso eu acredito que seja uma boa opção de leitura para quem quer começar a ler mais livros do gênero fantasia, se preparando para autores que trabalham com mais complexidade a construção política e mágica. No mais, a atualidade de um dos grandes problemas enfrentados pelos personagens do livro conversa muito com os problemas contemporâneos nada fictícios, como, por exemplo, os Estados Unidos do Trump e a falta de conhecimento da própria história e a proibição de livros. A estratégia de cercar a população de informações selecionadas e com propósitos bem definidos é algo que já vimos antes na realidade. E se o livro aborda de alguma forma a importância da história e como narrativas são modificadas para garantir a manutenção do poder de uma pequena elite, sim, eu estarei profundamente interessada na leitura. A saga ganhou essa magia para mim, foi ótimo ler algo divertido e conseguir tirar da leitura algumas reflexões sobre o mundo real e problemas contemporâneos, isso me fez lembrar que literatura cumpre essa função de entreter e informar, não precisando ser um ou o outro. Acabei dando cinco estrelas para os livros, não houve momentos chatos, consegui ler rapidamente (coisa que não é tão comum para mim) e me deixou curiosa do inicio ao fim pensando em quem são os verdadeiros vilões da história.

 Agora eu quero saber quem já entrou nesse esquema de pirâmide literário e quem tá querendo entrar. E se tem algo que faz você ler um livro, tipo eu com o rolê de política e história.

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13 comments

  1. Oi Van! Quer dizer que você caiu no papo das suas amigas? hihi- geralmente eu prefiro leituras que fogem do cotidiano como diz minha terapeuta, eu gosto de fugir da rotina nas leituras que faço, mesmo gostando de um romance clichê mas que tenha aventuras e uma sensação de que tudo vai dar certo, ao menos no desenvolver da narrativa. Obrigada por compartilhar aqui essa leitura, além de refletir, a gente consegue fazer com que a imaginação flua na história.

    Ju's Reads

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    1. Oi Ju! Cai no papo das minhas amigas, tem que ler as recomendações delas assim como elas acabam lendo as minhas recomendações xD
      Particularmente gosto muito de conversar sobre os livros, trocar risadinhas com trechos, algumas teorias, playlists aleatórias. Também sou do time fugir da rotina, vou mesclando minhas leituras de acordo com meu humor/dia a dia, colocando leituras mais leves quando a rotina tá corrida, ou leituras mais densas quando a rotina tá leve.

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  2. Adorei a tua resenha! Ficaste com um olhar bem atento aos detalhes e soubeste partilhar as emoções que o livro desperta. Ainda não conheço a história, mas a tua escrita deixou-me curiosa para ler. É tão bom ver quando um livro mexe connosco assim!

    Com carinho,
    Daniela Silva
    https://alma-leveblog.blogspot.com
    Convido-te a visitar o blog para mais inspirações e reflexões com alma.

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    1. Oi Daniela! Fico feliz que tenha gostado da resenha. Leitura boa é leitura que consegue mexer com a gente, uma história ficar por anos e anos grudado na memória pra mim é certificado de boa leitura.

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  3. Oi, tudo bem?
    Olha, eu nem sei já entrei em algo parecido com uma "pirâmide literária". Se conferir uma leitura pela dica de alguém, sim, já fiz mas não com frequência. Como deletei meu face e meu insta, já não participo mais de nenhum grupo sobre literatura. Esse certamente eu não compraria. Deixei o tema "fantasia" lá nos 15 anos. Vi tanto filme de fantasia que hoje não consigo ver mais nenhum, pois todos parecem iguais...do mesmo modo livros e filmes sobre vampiros...rs
    Quem gosta muito do gênero é meu filho (14 anos) que até já escreveu o próprio livro e está sempre escrevendo histórias de fantasia.

    Valeu!

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    1. Oi Eduardo! Compreendo completamente essa sensação de histórias repetidas de tanto ler o mesmo gênero literário, por isso eu tô sempre diversificando e eventualmente me dá saudade de ler algo meio familiar e vou retornando para gêneros que acabam entregando títulos similares por causa da estrutura e elementos da história.

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  4. ah, esse Kindle da foto é bem antiguinho...tive um desses...rs

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    1. Meu fiel escudeiro kkkkkkkk, oito anos de leituras e funcionando maravilhosamente bem.

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  5. Oi Vaneza! Eu achei interessante suas considerações sobre essa série. Até então, tudo que li focava apenas no romance com hot e não fiquei assim tão interessada. Agora, sabendo que há esse desenvolvimento do cenário político e histórico, fiquei com vontade de dar uma chance.
    Você sabe quantos livros tem essa série?
    Bjos!!
    Moonlight Books
    @moonlightbooks

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    1. Oi Cida! O pessoal pira do romance desse livro e particularmente eu acho muito chato, pois reduz a história em um aspecto que de fato está na história, mas não constitui o todo do livro. Pior ainda nesse caso, pois reduzem a história num romance quando a gente tem outros aspectos super interessantes construindo o universo. Se você der uma chance vou amar ler suas considerações sobre! Atualmente são três livros publicados, se não me engano o planejamento são cinco livros no total.

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  6. me lembro de já ter ouvido falar sobre o livro, mas não dei muita bola. só li uma fantasia a minha vida toda, então tenho certeza que eu acharia essa incrível. apesar de preferir outros gêneros, talvez eu até dê uma chance.

    beijinhos, nanaview 💌

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    1. Oi Nana! Você não é muito da fantasia né? Já vi você comentando sobre suspenses e terror, que são gêneros que eu não leio muito. A fuga momentânea da realidade para uma fantasia é uma coisa que me pega muito kkkkkk. Caso você dê uma chance para essa história, vou querer saber se você gostou ou se vai esperar uma oportunidade para me dar um pescotapa por te recomendar um livro que você não gostou, fazendo você se distanciar mais ainda da fantasia (achei uma responsabilidade muito grande).

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