Reflexões sobre o nicho literário nas redes sociais

Nos últimos dias eu tenho refletido muito sobre o consumo de conteúdo na internet e consequentemente sobre a produção de conteúdo para a int...


Nos últimos dias eu tenho refletido muito sobre o consumo de conteúdo na internet e consequentemente sobre a produção de conteúdo para a internet. E enquanto rolava as redes sociais me peguei no seguinte questionamento: "Para quê eu tô fazendo isso? De onde vem essa vontade de comunicar?". Talvez sejam as influências dos anos 2000 de mulheres bem sucedidas trabalhando com comunicação em jornais e revistas? Ou devido à tecnologia borbulhando na nossa realidade, é inevitável ter informação numa velocidade absurda, e para essa informação existir é necessário comunicar. E com o capitalismo, as tecnologias vêm se fundido para fortalecer o grande pilar da questão: consumo.


Confesso que fiz uma linha do tempo aleatória com momentos em que a comunicação fossem uma necessidade humana. E essa linha foi tão longe! Desde o primórdio, Homo sapiens estavam por aí pintando em rochas, deixando registros sobre fauna, flora e práticas que, atualmente, nos debruçamos para interpretar e conservar. Eu disse que tinha ido longe na linha do tempo.


Mas o que isso tem a ver com livros e conteúdo literário? Com a expansão das redes sociais, vários seguimentos de conteúdo foram se adaptando aos formatos de cada plataforma e hoje podemos ver o nicho literário para todo lado. Booktok, Bookstagram... Eu lembro que tudo começou com a proposta de compartilhar opiniões sobre as leituras, consequentemente pegar recomendações para as próximas leituras. Mas desde que o nicho virou uma possibilidade de ganhar dinheiro, as coisas mudaram um pouco. Em momento algum vou dizer que é errado ganhar dinheiro com internet, muito menos que é errado ganhar dinheiro com conteúdo literário. Mas gostaria de compartilhar alguns pensamentos sobre essa dinâmica que tenho visto nas redes. Principalmente sobre uma falta de paciência para consumir textos e demais mídias mais longas.

Conteúdo literário VS Estilo de vida de leitor

Essa foi uma das primeiras observações que fiz enquanto analisava perfis nas redes. Exite uma diferença gritante. E acho que é meio óbvio após perceber. Os perfis com conteúdos literários, eles estão focados em leitura, fazem leitura coletiva, promovem o hábito da leitura, e o maior diferencial de todos: postam resenhas. Os perfis que focam no estilo de vida de leitor, está mais focado em vender o estilo de vida, focando essencialmente em consumo. Seja de livros, fazendo menções rápidas e apelativas como o algoritmo das redes sociais adoram, ou ainda, criando o desejo de consumo em outras coisas que podem compor a estética do que seria um leitor. Seja com cenários onde as estantes estão enfeitadas com mil coisas, velas, book nook, chá, xícaras, ecobag... Percebe como a leitura vai perdendo o foco? Lentamente sendo substituído por um conteúdo que tem uma estética apelativa, mas não é sobre leitura.


Dentro dessa questão, eu ainda refleti sobre como o conteúdo literário é ignorado nas redes sociais. Começa sendo um conteúdo que não é um formato amigável ao algoritmo. Para ser amigável, você vai precisar dançar no ritmo e se aproximar cada vez mais do que seria o estilo de vida de leitor. E isso é caro. Ser leitor nesse país é caro, convenhamos. Mas adicionando post-it, marcador de página e várias outras parafernálias, beira o impossível. E não basta dizer "é só não fazer". Eu acho que isso é uma solução ingênua e me atrevo ainda a dizer irresponsável. Se você de alguma forma cria conteúdo na internet, você esta automaticamente criando vontades de consumo, e se você está nas redes sociais, está também suscetível a cair nessa teia de consumos. Estamos num sistema capitalista e reféns de tudo isso.

Encarar as redes sociais como um passatempo e/ou entretenimento, é ok. Mas perceber que esse passatempo ocupa um enorme tempo do seu dia, e lhe bombardeia de conteúdo para comprar coisas é bizarro. Principalmente quando paramos para pensar que no cotidiano corrido, o tempo livre é pouco, passar esse tempo nas redes sociais é automático. E você, enquanto leitor, poderia estar passando mais tempo lendo (se isso é o seu passatempo), em vez de ficar rolando as redes sociais e terminar o dia com a sensação de que está falhando como leitor por não ler o livro X, não tem o treco Y. 

Termino esse devaneio afirmando que antes de tudo, isso também é um lembrete para mim. As redes sociais não deveriam ser um buraco negro sugando meu tempo, e sim um passatempo saudável. E uma das coisas que mais amei sobre voltar para o blog é por justamente ter um espaço onde minha necessidade de comunicação é atendida, e assim que eu fecho a aba do blog, eu consigo dar atenção a outras demandas do meu dia. Assim como eu também acho que tenho mais escolha sobre os conteúdos que consumo dessa plataforma do que nas redes sociais. Muitas vezes a gente tá rolando o feed sem sequer saber o que estamos procurando, nos deparamos com mil realidades diferentes e no fim do dia saímos querendo ler dez livros novos e sem sequer ter lido trinta páginas no dia.

Leia Também

4 comments

  1. Oi Vaneza, tudo bem?
    Que post maravilhoso ♥
    Eu nunca foquei no Booktok nem no Bookstagram, mesmo sabendo que tava perdendo dinheiro enquanto tinha parcerias grandes. Simplesmente não consigo. Meu foco sempre foi o blog.
    Não consigo compactuar com conteúdos rasos só pra me manter produzindo pro algoritmo sem fim. E se você não fizer isso, se não postar sempre, seu alcance cai e você flopa. É desumano. Produzir conteúdo bom, que demanda tempo e análise, não é compatível com essa correria das redes sociais. E eu já fiz as pazes com isso. Que alívio ver mais gente pensando igual. ♥
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Prih! Eu fico muito feliz que você tenha se mantido firme esse tempo todo e continue compartilhando um conteúdo tão legal. Realmente o formato de conteúdo que o blog permite fazer é mais completo e pessoalmente, eu amo a sensação de escolher que tenho nesse espaço. Eu sinto que consigo fazer um consumo mais consciente de conteúdos e acompanhar pessoas que de fato me interessam e não uma enxurrada pensada pelo algoritmo. O chato é que às vezes o blog passa a sensação de ser um lugar solitário :/

      Excluir
  2. Passei anos produzindo conteúdo literário e vi que meus interesses mudaram muito conforme fui fazendo desse hobby uma profissão. De repente o que era prazeroso, se tornou uma cobrança na minha vida. Conheci pessoas incríveis desse nicho, mas ao mesmo tempo me esbarrei com pessoas cruéis, mesquinhas e competitivas. Quase perdi o meu prazer pela leitura por conta da pressão que eu sentia. Hoje consegui resgatar essa paixão, sabe? quem cria conteúdo literário sofre muitoooo com esse meio =/
    Pessoas competindo
    trabalho que não é reconhecido da forma que deveria

    O que vale a pena mesmo são as amizades que fazemos no caminho =D
    https://saidaminhalente.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Clayci! É aquela sabedoria popular "trabalhe com o que ama e passará a odiar" kkkkkkkkk, infelizmente eu caí no conto do vigário até com a escolha de profissão e vejo que o buraco é bem mais embaixo. Com a leitura, eu tentei profissionalizar a coisa, mas começou a perder o prazer da coisa para virar obrigação e desisti. Retomei me prometendo continuar como passatempo e é muito difícil não ceder a certas pressões. E é muito triste ver que é um mercado absurdo demais, pouco valorizado e alimentado por umas tretas ridículas.

      Excluir

Compartilha com a gente a sua opinião <3