Lançada em 2018, Good Girls é uma série norte americana que não só retrata o dia a dia da mulher norte americana, mas três mulheres que compõem uma variação dentro do padrão social, o que elas têm em comum é serem mães. Beth e Annie são irmãs e durante a infância conhecem a Ruby, a amizade das três segue durante toda a adolescência até a fase adulta, acompanhando todos os altos e baixos. A vida adulta chegou para todas, para a Beth em em especial, os filhos e a casa são a responsabilidade principal, ela leva aquele modelo de vida em que tudo é perfeito, até o dia em que descobre que seu casamento não é perfeito e que o marido perdeu quase todo dinheiro. Preocupada com toda a responsabilidade, resolve que talvez não seja uma má ideia roubar o supermercado com suas amigas. Annie e Ruby vivem o oposto da Beth, ambas precisam do dinheiro e entram na história de roubar o supermercado.

A série se faz interessante ao mostrar a insatisfação da mulher dentro dessa ideia de mãe e esposa, dependente do marido indo em uma direção completamente oposta e nada convencional. Os dramas pessoais de cada personagem são bem desenvolvido e conseguem ser misturados com situações de comédia. A unica personagem que não me chama a atenção é a Beth. Ela tinha tudo para ser uma presença marcante na série, mas como protagonista, a atriz deixa muito a desejar. A principio pensei que fosse um roteiro mal construído, mas no decorrer da série percebi que em momentos em que o roteiro, a trilha sonora e a cena eram aqueles clichês para a mocinha ser fodona e impactante, mas ela não conseguia fazer isso de forma alguma.

Acabei maratonando as duas temporadas em um final de semana e ao fim fiquei com a sensação de que a série não foi ruim, mas também não foi grande coisa. Ver as três personagens entrando cada vez mais no mundo do crime de forma desajeitada e quase inocente faz você dar play no episódio seguinte, e a trama vai ficando cada vez mais densa. Talvez o segredo seja não criar expectativas.

Confesso que já tinha um bom tempo sem assistir animes, até mesmo One Piece que eu assisto desde a oitava série estava pausado por estar sem tempo, imagina se haveria a chance de nesse meio tempo procurar por novos animes?! Mas cá estou, novamente agarrada aos animes, e o motivo foi precisar de algo com episódios de curta duração para encaixar nos momentos de pausa dos estudos. Foi assim que voltei a acompanhar One Piece, procurei em qual temporada havia pausado Boku no Hero e me peguei com vontade de ver animações diferentes, nessa parte a Netflix entra com grande peso pois a plataforma tem feito aquele investimento em aumentar o catálogo. Nessa publicação vou falar sobre os últimos animes assistidos na plataforma e já aviso que só trouxe os animes que eu realmente gostei e me diverti assistindo. E para quem não viu a primeira postagem com indicações de animes disponíveis no catálogo da Netflix, clica aqui para conferir mais!

Great pretender

Esse entrou na minha lista antes mesmo de entrar no catálogo e eu me arrependi de não ter assistido antes. Makoto Edamura acreditava ser o melhor vigarista do Japão, até conhecer um estrangeiro que lhe mostrará como a arte da trapaça pode chegar a níveis absurdos. Achei super divertida a história, a única coisa que me causou estranhamento foi a questão da barreira do idioma sendo retratado no anime. Eu sempre assisto com áudio original, e durante os golpes ficou um pouco caótico para mim essa questão, mas nada que incomodasse ao ponto de desistir da história. A trilha sonora é um ícone e me encontro em situação de espera para a terceira temporada.

One piece

Quando esse tesouro entrou no catálogo eu fiquei estremecida para rever tudo! Mas me contive. Obviamente isso durou poucos meses, atualmente estou revendo esse anime e, se você já conhece one piece deve estar pensando algo entre "desocupada" ou "maluca", mas a verdade é que esse anime 10/10 é gigante por ter bastante história para contar, e não fica ruim. Pode até em algum momento da maratona ficar cansativo, afinal, são mais de mil episódios e segue sendo lançado todo domingo. E se você tá lendo isso e não conhece one piece, sim, é um anime longo, mas acredite quando digo que é um anime muito bom. O que eu mais amo é ver a complexidade da história e como as pontas soltas vão se amarrando no decorrer da história, que começa com o Luffy querendo ser o rei dos piratas e lutando para conquistar seu sonho, assim como seus amigos, cada qual com seu objetivo, até a construção de um universo complexo e repleto de questões politicas. Vale ressaltar que a Netflix já anunciou a live action de one piece, e eu não estou empolgada, devido ao histórico de péssimas adaptações, mas admito uma curiosidade para ver no que vai dar.

Demon Slayer

Esse anime foi uma surpresa com relação ao tanto que eu iria gostar. Eu realmente não imaginava que iria assistir esse anime e ficar fissurada querendo brinquinho, tatuagem e afins. Tanjiro, nosso personagem principal chega em casa e encontra toda a sua familia brutalmente assassinada. Em meio ao pânico, percebe que sua irmã mais velha ainda respira e tenta salva-la. O que ele acaba descobrindo é que sua família foi assassinada por um demônio e sua irmã havia sido transformada em um. A partir disso, Tanjiro inicia sua jornada para se tornar um caçador de demônios e encontrar uma forma de salvar sua irmã. Começo pontuando que amo animes que retratam um período feudal do Japão, e em demon slayer acho ainda mais interessante pois no decorrer do anime vamos vendo que nem todas as regiões são retratadas da mesma maneira. A história é muito boa, e a animação, meus amigos, olha... não economizaram não. É uma animação extremamente linda, as cenas de luta literalmente valem milhões.

Aggretsuko

Essa animação eu comecei esperando apenas que fosse me garantir bons momentos de entretenimento, e até cumpre com essa parte. Mas consegue ainda garantir umas reflexões sobre a vida de jovem adulto e as frustrações que vem de brinde. Retsuko é uma jovem de 25 anos e está cansada do seu trabalho massacrante em um escritório de contabilidade e do seu chefe abusivo. Em meio a essas questões, nossa personagem principal lida com questões cotidianas e um segredo de como consegue manter o equilíbrio extravasando sua raiva de uma forma muito peculiar. Para quem tá nessa faixa etária, pode encontrar alguns pontos de identificação, mas como a ideia do anime é também satirizar essas vivências, fica mais puxado para a comédia. Cada temporada acaba tendo um foco em alguma questão da vida da Retsuko, e esse anime em questão é o único da lista que eu assisti dublado. Me recomendaram a experiência por ser muito engraçada a dublagem, e eu passo essa recomendação adiante.

Gokushufudou: Tatsu Imortal

Quando eu vi esse anime no catálogo e li a sinopse pensei "isso tem cara de não ser tão bom", e continuei procurando algo. Mas de tanto aparecer como recomendado, e em um dia de muito tédio, resolvi dar uma chance e foi uma surpresa. Os episódios mais curtos que o normal me deixaram tristes pois percebi que eu tenho interesse sim, em ver um ex membro da máfia japonesa deixando o mundo do crime, e se dedicando a arte da vida doméstica. Sim, o anime é isso. Mas o Tatsu é tão engraçado sendo sério com os afazeres domésticos que me rendeu bons momentos e risadas com coisas bobas. Esse é um dos animes que quando entrar mais episódios no catálogo, vou assistir de uma vez. Ainda na Netflix, foi lançada a live action, e para ser honesta, não tive coragem de assistir. O histórico de live actions mal sucedidas é grande demais para ariscar.

Cowboy Bebop

Mais um anime da lista que recebeu live action na Netflix e eu não tive coragem de assistir. Confesso que conheci cowboy bebop recentemente, e vi que ele é super recomendado entre os animes clássicos. A animação antiga me conquistou bastante, mas sou suspeita para falar pois eu acho as animações dos anos noventa uma gracinha. Só que esse anime não tem muita gracinha no enredo. A história se passa em 2071, e mistura o faroeste cowboy com viagens espaciais. Spike e Jet, são dois caçadores de recompensas que vasculham o sistema solar perseguindo bandidos. Ao longo da jornada, outros personagens entram no grupo e contribuem com os trabalhos. Pode lembrar um pouco o filme Guardiões da galáxia, mas Cowboy bebop consegue ser sombrio, ao abordar questões sobre a destruição do planeta terra e novas maneiras de existir, o existencialismo que, acompanhado da trilha sonora a base de Jazz, dá um clima nostálgico e melancólico.

Nem é tão tarde da madrugada para sentir vontade de escrever devaneios. Mas a vontade veio e não vou me negar esse momento. Faz tanto tempo que não dou as caras por aqui, como também faz tempo que não escrevo sobre o que sinto, ou o que tem ocupado meus pensamentos. Tantas coisas aconteceram. A maioria delas dentro de mim, como um furacão, tirando tudo do lugar e me fazendo questionar tantas coisas. Inclusive coisas que sempre acreditei que eram fixas, que faziam parte de mim. Me encontro no meio do caos, entre o que eu já fui e o que quero ser. Sem certeza de absolutamente nada, só sentindo uma necessidade urgente de mudar e encontrar algo que tem feito falta. Talvez seja algo entre a estabilidade da vida adulta, a qual começo a acreditar que seja uma ilusão, ou algo próximo a mim mesma, mas uma versão nova, que eu ainda estou descobrindo, ao mesmo tempo que construo. Possivelmente o quebra cabeça mais complicado, mas montar ele vai me mostrar algo importante. Essa é a sensação que tem me guiado.

Entre o tédio, a tristeza que sempre vai e volta, e as várias versões de mim mesma, venho tentando me renovar, tal qual uma árvore no outono, deixando as folhas caírem, folhas com escritas do passado, coisas que não somam, coisas que perderam o sentido. Tem sido estranho, confesso. Na maior parte do tempo tenho medo de me perder de mim mesma, esquecer coisas importantes que me guiaram como uma bussola. E talvez me perder seja me encontrar, não é o que as músicas dizem? Preciso mesmo é de coragem para reinventar, ver as coisas com outros olhos, ser mais acolhedora comigo mesma e me permitir errar, mas acima de tudo, aprender a me perdoar, A gente se deve esse tipo de coisa né?

Todo ano faço uma lista com metas pessoais para alcançar antes do meu aniversário, e sinceramente, a mais importante de todas não está lá. Mas deixo registrado aqui, o que eu realmente quero me dar de presente, além das sessões milagrosas de terapia, é me reencontrar. Começar a organizar dentro de mim o que eu sinto, tentar todos os dias ser melhor para mim mesma, me comprometer comigo e fortalecer esse vinculo, sem cair no abismo do egocentrismo.

 Além de planejar uma TBR, os desafios literários e leituras coletivas tem me ajudado muito a ter mais ânimo para ler, e consequentemente ler mais livros. Não querendo dizer que ser leitor é ter a obrigação de ler muito, ou que eu esteja alimentando uma competição de quem lê mais livros. No meu caso, é um desejo meu ler mais, principalmente depois de ter passado um ano sem fazer as leituras que eu sempre gostei.

Os desafios literários começaram para mim com as maratonas de halloween que eu faço no mês de outubro. Eu separo algumas categorias e monto uma TBR em cima dessas categorias. As leituras coletivas acontecem aos montes no bookstagram. No ano passado eu participei de algumas leituras coletivas e fiz algumas com um grupo de amigos. Essa prática de listar as metas e definir objetivos diários me ajudou muito na gestão do meu tempo. Eu estou no fim da minha graduação e tenho várias coisas para fazer, várias leituras e atividades, e foi justamente por causa da faculdade que eu diminui meu ritmo de leitura. No período da pandemia eu aproveitei para ajustar as coisas, e funcionou demais! Obvio que iria repetir em 2021, e nessa publicação eu vou compartilhar com vocês quais desafios literários e leituras coletivas eu tenho previstas para fazer.

O que são as leituras coletivas?

É a promoção da leitura de um ou mais livros, tendo previamente estabelecido metas diárias e em muitos casos também a discussão da obra. Geralmente são criados grupos de interação para essas leituras coletivas (também conhecidas pela abreviação LC). 

O que são os desafios literários?

Os desafios literários podem ser mais longos que as leituras coletivas e mais abrangentes. Pode ser promover a leitura de todos os livros de um determinado autor, ou temas literários pré estabelecidas de acordo com um objetivo, como fantasia nacional, ou clássicos da literatura brasileira. Desde 2020 eu faço no instagram literário @garotado330, a maratona Halloween Literário, composta por desafios temáticos para promover a leitura de obras que remetam de alguma forma ao halloween, e é sempre muito divertido. Obvio que em 2021 haverá esse desafio.

O que eu tenho programado para 2021

Atualmente eu estou fazendo com um grupo de amigos a leitura coletiva de Percy Jackson e os Olimpianos, determinamos que vamos ler os cinco livros em ordem cronológica, um livro por mês. A meta diária são três capítulos por dia, assim temos uma estimativa de quanto tempo passaremos lendo o livro do mês, viabilizando a leitura de outros livros que não façam parte do objetivo.

Agora no fim de fevereiro também estou participando da leitura coletiva de Riacho do Jerimum, uma fantacia nacional da autora Jadna Alana. A meta é ler cinco capítulos por dia e finalizar a leitura ainda no mês de fevereiro.

Para os desafios literários, que são definitivamente mais longos, eu tenho dois em andamento. O primeiro são objetivos mensais de um grupo de leitores da cidade que eu morava, todo mês nós temos categorias diversas para cumprir e eu não montei uma TBR para esses desafios, a ideia é que eu encaixe os livros que eu já quero ler nas categorias pré estabelecidas pelos organizadores do grupo. Em janeiro a categoria foi "um livro esquecido na estante" e eu encaixei Percy Jackson e o ladrão de raios, que era um livro que eu sempre tive curiosidade em ler mas nunca achava que seria um bom momento. Para o mês de fevereiro eu tenho que ler um livro com a capa preta, e para essa categoria eu escolhi Riacho do Jerimum.

O segundo desafio que eu estou participando foi organizado pela Neylane do bookstagram   @livrerias    inclusive eu recomendo muito o perfil dela pra quem gosta de livros e mangás. O desafio se chama "Lendo as escolas literárias" e promove a leitura de livros nacionais com base nas escolas literárias. Começa pela primeira fase do romantismo porque é a primeira escola literária produzida por brasileiros, e não Portugueses falando sobre o Brasil.

A minha TBR para esse desafio ficou assim:

Romantismo fase 1: Iracema

Romantismo fase 2: Lira dos vinte anos

Romantismo fase 3: Os escravos

Realismo: Ressurreição

Naturalismo: O cortiço

Parnasianismo: Alma Infantil

Simbolismo: Eu

Pré Modernismo: Triste fim de Policarpo Quaresma

Modernismo fase 1: Macunaíma

Modernismo fase 2: Vidas Secas

Modernismo fase 3: Perto do coração selvagem

Contemporânea 1: Quarto de despejo

Contemporânea 2: Becos da memória

Existem alguns outros desafios que eu tenho em mente, mas não vou fazer eles pensando em uma meta para finalizar, podem durar anos ou meses, mas eu tenho o objetivo de ler todos os romances da Clarice Lispector, Machado de Assis e Jorge Amado. A lista de livros é gigante, mas o importante é manter a diversão da leitura.

     Conheça também o Instagram @garotado330     

 

Todo fim de mês eu tiro um tempinho para pensar em quais leituras eu quero fazer e como posso organizar para encaixar elas dentro do meu dia a dia as vezes tão corrido. Na postagem sobre o que é TBR eu falei um pouco sobre como isso tem me ajudado a ler mais, recomento a leitura! Basta    clicar aqui   para conferir a publicação.

Para janeiro, as leituras estão recheadas de desafios e maratonas literárias que eu estou fazendo para ler coisas que eu sempre quis ler, ou coisas que eu não li na época em que foi lançado mas estou correndo atrás do prejuízo. Acabou não sendo um mês cheio de leituras porque eu quis aproveitar o recesso para descansar totalmente e organizar algumas coisas. Apenas dois livros foram lidos em janeiro, e ambos são parte de desafios literários para 2021.

Livro: Iracema

Autor: José de Alencar

Ano: 1865

O livro está gratuito no formato e-book pela Amazon, e ele fez parte do desafio "lendo escolas literárias" que eu comecei participando no instagram @garotado330, e resolvi que pode ser muito interessante discutir os livros aqui no blog por ter mais espaço para digitar e falar sobre as obras. A proposta do desafio é ler uma escola literária por mês, começando pela primeira fase do romantismo. Escolhi Iracema porque eu sempre quis saber como os grupos indígenas eram retratados nas obras indigenistas, e o contexto em que a obra se passa, colonização do Brasil, é algo que eu tenho muito interesse em ler. Em breve trarei minhas considerações sobre a leitura.

A sensação de que o tempo não tem passado. Ou os dias parecendo todos os mesmos, um longo domingo entediante. Ver a vida da janela de casa ou no feed do instagram e pensar que poderia estar fazendo tanta coisa, vivendo tanta coisa. Mas não. Você está presa num longo domingo de tédio. Os planos que você fez a alguns anos parecem mais distantes, e você não sabe ao certo o que fazer para realizar eles. Para cruzar a linha de chegada que você imaginou por tanto tempo. Ai surgem tantos questionamentos, será que a linha de chegada é uma ilusão? Será que de tanto ver comédias românticas norte americanas e aquele fim feliz está tão intrínseco em mim que eu imagino que um dia eu teria um desfecho feliz depois de passar por tanta coisa? Mas os filmes não mostram o resto da história, é só um recorte. Depois que a palavra "fim" parece, é só o fim daquela parte, não da história toda, não é o fim da vida. Eu não posso esperar que ao pegar meu diploma eu tenha meu final feliz. Talvez seja o final feliz daquele ciclo da minha vida. Mas haverá outros. E essa pressa que me consome, na vontade de chegar em algum lugar me faz pensar em pra que ter tanta pressa. Não existe um único final feliz. São vários capítulos de altos e baixos. São fases que eu não deveria ter pressa. Eu sempre pensei que a vida era algo como um caminho ou uma escada,  e eu teria que me esforçar para chegar no fim do caminho ou no topo da escada. Mas eu percebi que no fim dessas coisas, está a morte, e que sentido tem viver para apressar isso? A vida é a caminhada pelo tal caminho, ou a subida dos degraus. Tudo que eu tenho que fazer é sempre escolher a vista mais bonita, sem pressa, sem saber onde ao certo quero chegar, e não ter pressa de viver.

Mais uma resenha aqui no blog e dessa vez é sobre um livro nacional. Como sempre a resenha é livre de spoilers e eu vim na missão de convencer você a ler esse livro que entrou para a minha lista de favoritos! 

        Sinopse                                                       

Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma velha e misteriosa faca na mala guardada sob a cama da avó. Ocorre então um acidente. E para sempre suas vidas estarão ligadas, a ponto de uma precisar ser a voz da outra. Numa trama conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, o romance conta uma história de vida e morte, de combate e redenção. Um texto épico e lírico, realista e mágico que revela, para além de sua trama, um poderoso elemento de insubordinação social.

O livro traz a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia que moram no interior do sertão baiano e tem suas vidas marcadas por um acidente ao encontrar a misteriosa faca da avó Donana. É a terceira geração de uma família que viveu em situação de escravidão em fazendas. Pode parecer algo distante da realidade das irmãs, mas não é, já que o trabalho exercido por todos os trabalhadores da Fazenda Água Negra é nada mais do que uma escravidão moderna, em que as famílias trocavam o trabalho braçal exaustivo no plantio por uma casa de barro e um pequeno quintal onde poderiam cultivar o suficiente para a subsistência da família.

Existem marcas vivas e doloridas desse tempo que é refletido na saúde da avó e dos pais, nos calos das mãos, as dores do corpo e da alma. Bibiana e Belonísia nasceram e cresceram na Fazenda Água Negra, a todo momento o leitor é levado a entrar cada vez mais na realidade dessa família, que não é nada longe da realidade de muitas famílias da época, alguns detalhes do dia a dia, descrições das atividades, da casa de barro, da religiosidade manifestada nos encantados que mostra muito da diversidade cultural e como religiões de matriz africana receberam influências externas de grupos indígenas nativos no Brasil.

A narração do livro é dividido entre Bibiana e Belonisia e o leitor acompanha a infância, adolescência e fase adulta das irmãs, cada uma com um caminho diferente e com suas dificuldades. Enquanto uma se encontra com uma relação forte com a terra e a vida na fazenda, a outra está descontente com as injustiças infligidas aos trabalhadores da fazenda e busca por mudanças.

Para mim a leitura foi muito fluida e eu muitas vezes me peguei conectada a história de formas diferentes, como, por exemplo, analisando a relação dos trabalhadores com a fazenda que não é apenas algo baseado no trabalho, mas na construção da identidade daquelas pessoas. Quando o autor diversas vezes cita o modo de construção das casas e os materiais usados, tanto na construção como no dia a dia daquelas pessoas. Onde as casas eram localizadas dentro da fazenda, a conexão dos trabalhadores com o cemitério da fazenda onde entram enterrados os trabalhadores. Tudo isso eu consegui associar com coisas que vejo na minha graduação de arqueologia e consegui identificar no livro situações que são reais em pesquisas arqueológicas, talvez meu exemplo favorito seja a Belonísia dizendo que as vezes o povo da região encontrava potes de cerâmica enterrados e sabiam que poderia haver ossos humanos.

Ficou com aquela curiosidade para saber mais sobre arqueologia? Aqui no blog tem um espaço chamado Arqueologando onde falo mais sobre essa ciência que ocupa meu coração acadêmico, para ver a primeira publicação basta clicar aqui para conferir!

Eu recomendo muito a leitura desse livro, foi um dos favoritos de 2020 e me fez perceber uma nova “vibe” de gênero literário, algo mais próximo da realidade, com temas importantes e questionamentos que deveríamos fazer e discutir com todo mundo. Eu amaria ver esse livro sendo usado por escolas como referência de literatura nacional.

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